Antonio Aleixo (1899-1949) foi um poeta português popular, marcado pela crítica social e ironia. Possuía uma rara espontaneidade, viveu em meio a pobreza e dificuldades. Faleceu em decorrência de uma tuberculose, que também havia tirado a vida de uma de suas filhas.
Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.
Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!
Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...
E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!
Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...
António Aleixo, em "Este Livro que Vos Deixo..."
Relacionando o poema com nosso contexto atual:
O autor, no poema, deixa claro que não seria o mesmo se o
mundo fosse bom, assim entendemos que na nossa realidade atual tudo seria
diferente se fossem moderadas as estatísticas dos inúmeros males que nos
assombram. Se fossem mais próximas a nós as oportunidades de compactuar com
boas ações, e não serem apresentadas tão cedo a realidade cruel a longo prazo,
mas por hora fácil e uma falsa beneficiadora.
Também fala da inocência das crianças, como tudo é bonito e
não imaginam como a vivência pode ser difícil ao tomar certa idade. Ao final da
estrofe nos deixa a reflexão: “De ser vítima humilde ou ser algoz...”, como
sendo um dilema a ser enfrentado, que cabe perfeitamente aos dias atuais: ser
humilde e por vezes sentirmo-nos injustiçados, ou colocar-se na posição de
algoz e ir contra nossos sentidos éticos, morais, dentre outros.